Plano de Fundo

domingo, 26 de agosto de 2012

Em cima do muro




“Ninguém pode servir a dois senhores” 

Mateus 6:24


Ou, em termos mais populares, não dá para assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Essa é uma verdade que aceito desde sempre e prego insistentemente. Mesmo em um mundo de valores absurdos e princípios de ponta-cabeça, eu continuo acreditando cegamente nesse fato.
Não necessariamente no servir, mas em tantas outras coisas: amor, trabalho e, principalmente, amizade.
Na minha concepção, amigo toma partido. Sempre. Se eu ofereço minha amizade para alguém e esse alguém se encontra ofendido ou injuriado, nada mais natural que isso me atinja. Afinal, ele é meu amigo!
Marquês de Maricá assim preceitua: “Quando defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade”. Bingo! Faço das suas as minhas palavras. Se não se pode contar com a defesa de um amigo diante de uma situação difícil, qual o sentido dessa amizade?
“A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e confia em você.”(Ralph Waldo Emerson)
E se o amigo acredita e confia em você, porque não tomaria partido diante de uma injustiça que lhe é cometida? Ficar em cima do muro pode ser muito mais cômodo, mas acredite: a queda é inúmeras vezes maior!
Sim, eu já sofri com amizades ‘cômodas’. Já dei o meu melhor para um(a) amigo(a) e me vi abandonada diante de uma bifurcação; foi mais conveniente ficar em cima do muro do que vir segurar minha mão e dizer ‘eu estou do seu lado, conta comigo’. E tive que atravessar todo o deserto da dor sozinha. Já tive que me calar diante das perguntas: ‘não era seu amigo? Por que não ficou ao seu lado? Por que está perto de quem não te quer bem?’
Nesse momento, Caio F. Abreu cai como uma luva: “Temos que ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: ‘Eu sobrevivi’.”
É, mesmo cheia de cicatrizes, eu sobrevivi.




segunda-feira, 20 de agosto de 2012

E se tivesse dado certo?


Tem dias que a saudade é tão grande que se torna impossível fugir da frase: ‘e se tivesse dado certo?’
A sensação é de um misto de angústia e inquietação que impulsiona a imaginação muito, muito longe.
Se tivesse dado certo, talvez hoje fôssemos incrivelmente felizes. Teríamos amadurecido juntos, vivenciando cada nova experiência de mãos dadas. A alegria teria sido sempre repartida e o colo estaria sempre à disposição diante da dor. Talvez eu tivesse experimentado um pouco do seu mundo agitado e te presenteado com um tanto de calma que existe do lado de cá. Talvez fosse amor pra vida inteira...
Ou talvez não. Quem sabe, fomos poupados de um fim trágico ou mesmo de um meio morno. Talvez a euforia tivesse fim bem antes do que imaginávamos e tudo seria de um preto e branco sem graça, sem vida.
Na verdade, o segredo não está em pensar como teria sido. O certo é pensar no que foi. Enquanto existiu, foi pra sempre. O tempo em que fomos companhia um do outro será só nosso eternamente. Se é verdade que nos transformamos todos os dias, então aquela garota lá, exatamente como era naquele dia, será só sua e não há nada que possa mudar isso. Assim como você não terá sido de mais ninguém. Não é bonito pensar assim? Não diminui a dor?
Não importa a quem pertencemos hoje ou de quem seremos companhia amanhã, existe um lugar no tempo em que nos pertencemos. E quantas vezes eu voltar pra lá, nosso mundinho estará intacto esperando por nós dois.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Meus vinte e poucos anos...




Sempre esperei ansiosamente por essa data só pra poder cantar: “tenho 25 anos de sonho, de sangue e de América do Sul”. E não é que a espera teve seu fim?! Ou seria apenas o começo?
Quando era criança, imaginava que essa idade já era o ápice da vida adulta. Que estaria estabilizada, com família e filhos. Na adolescência, por sua vez, a ideia deu um giro bacana de 180 graus: imaginava que não daria tempo de absolutamente nada e ficaria perdida nesse mar de possibilidades que a vida oferece.
Estar no meio desses dois pensamentos hoje é um equilíbrio perfeito. Nem 8 nem 80. Não sei se fiz tudo que devia, mas sei que fiz o máximo que pude; que pulei em cada cavalo que atravessou meu caminho e, mesmo que algumas vezes tenha sentado ‘meio torta’, eu não desisti.
É muito bom chegar aos 25 anos sem perder a alegria e a magia de menina e, ao mesmo tempo, conquistando o meu espaço com a maturidade e a serenidade de mulher.
Não foi fácil – e graças a Deus por isso. Caí muitas e muitas vezes e, segurando firme nas mãos do meu Pai do céu, levantei cada vez mais forte.
Durante todos esses anos, houve quem puxasse meu tapete (e como houve!). Mas houve também quem se colocasse ao meu lado e me ajudasse a refazê-lo, linha por linha. Encontrei quem me fizesse rir e também quem fosse o motivo de minhas lágrimas. Fui enganada por minha própria ingenuidade, mas foi ela mesma que me fez acreditar de novo tantas outras vezes. Amigos vieram, foram... e os verdadeiros permanecem, apesar de tudo (graças a Deus!)
Amadureci – talvez mais de forma forçada do que por vontade própria. Foram tantas provações que às vezes meus ombros quase não suportaram e foi ajoelhada que eu consegui ultrapassar as barreiras.
Mas, fazendo um balanço de tudo, agradeço a Deus por todos os momentos difíceis. Por todo cuidado que Ele teve de me mostrar que a confiança e a fé nos fazem bem mais fortes do que somos. Que a dependência total em Deus nos traz paz mesmo diante da mais turbulenta tempestade. E que andar ao Seu lado já é a maior vitória que o ser humano pode conquistar.
Ao falar em vitória, não há como esquecer o Direito. Quem acompanhou meus últimos anos, sabe da minha luta durante todo o curso - e talvez nem saiba de tudo. Foram tantas discussões e perseguições por conta do sábado. Foram tantos dias de luta em hospitais... Até que a colação de grau chegou (graças a Deus!). Depois, OAB. Estudando em casa para a primeira fase, sem auxílio de cursinho. Assistindo vídeos, buscando materiais na internet, me desdobrando inúmeras madrugadas adentro. E a aprovação veio (graças a Deus).
Alegria dissipada, no entanto, um dia após o resultado. O falecimento dos meus tios em um acidente. O mundo em milhares de pedaços de novo. Como encontrar forças pra continuar? Amparar-se em Deus não foi o suficiente; Ele me ergueu, me colocou no colo e me levou. A segunda fase da OAB foi estudada por meio de um curso específico (muito bom!), de madrugadas de estudo e de lágrimas, muitas lágrimas. Apoio não me faltou (dos meus pais, irmãos, cunhados, de muitos familiares e até de quem eu nem esperava) e mais uma vez Deus esteve comigo (acreditando em mim quando eu mesma achei que não dava mais) e eu consegui a aprovação. Advogada!
Hoje, entendo que cada dor moldou cuidadosamente meu caráter, me fez ter humildade, fé e coragem.
Agradeço também pelos momentos felizes! Por todos os sorrisos (nada discretos), por todos os abraços, por todas as lágrimas de alegria, por todo companheirismo que encontrei nos meus queridos. Agradeço a Deus, em especial, por ter me dado uma péssima memória para momentos ruins e a capacidade de não guardar mágoas.
E, não posso esquecer, agradeço a Deus por minha família. O tempo faz a gente entender que, apesar de tudo, é só com ela que se pode contar sempre. E que Deus é muito sábio porque, se eu pudesse escolher agora, escolheria a mesma família, exatamente a mesma.
Enfim, essa sou eu.
Alice, 25 anos, advogada. Ainda não estabilizada, mas também não perdida. Eu diria que... pronta para começar!

“Afinal mudamos constantemente.
E prova disso, nossa pequena se tornou
Adulta, Mulher Alice.
Tão de repente.”